Ouvi essa afirmação há um tempo atrás, quando estava abrindo a minha agência (que já fechei, pra deixar de ser guri), e outro dia me peguei pensando nela. Foi na casa de um tio que lá pelas tantas ouvi: "Gordo (forma carinhosa e injusta que a minha família me chama), vem cá que o tio quer te apresentar um amigo que foi publicitário”.
Entre um comentário e outro conheci o breve histórico de quem havia passado por agências bem relevantes do mercado na capital, mas me interessei logo em saber por que ele não era mais desse mercado e que caminhos havia tomado. A resposta foi direta: "Bah cara, essa história de agência é coisa pra guri". Fiquei meio espantado num primeiro momento e reagi com um "Como assim?!", afinal ele acabou virando bancário. De forma bem sucinta ele me descreveu as diversas situações em que teve que trabalhar até tarde, mudar tudo de última hora, engolir sapos, correr para se atualizar numa tecnologia, entre outras coisas. Pensei na hora: ele tem razão, gente velha não aguenta isso.
O Saul Duque, da Dez Propaganda, um dos publicitários que eu mais admiro, estava completando, outro dia, mais de 50 anos. Que o Saul me perdoe, mas ele poderia ser meu pai; a diferença é que ele é um guri. Assim como ele, diversos outros publicitários ou profissionais que admiro tem essa virtude, que acredito ter a fórmula que procuro: ser jovem pra sempre.
Um estado de espírito permanente jovem é algo invejável, mas realmente necessário nessa profissão. Não que um bancário não possa ser. Tenho um tio bancário que depois de aposentado viaja o Brasil inteiro de moto, parece um guri. É estimulante e inspirador ver essas pessoas ativas, antenadas e conectadas entre o mundo que a gente vive e a importância do que já vivemos. A jovialidade não está no saber e fazer o que é cool e novo, mas na vibração que essas pessoas emitem.
Paralelo a isso vejo gente parada no tempo. Pessoas burocratizando reuniões para resolver o almoço; gente jovem reclamando de coisas, como velhos ranzinzas. Vejo pessoas acomodadas dentro de uma zona de conforto, onde o pó e o cheiro de mofo me enfurecem. Não quero isso pra mim.
Quero uma vida divertida, aonde sossego e felicidade não sejam sinônimos de apatia e conforto, que paz não seja sinônimo de conformismo. Também não quero parecer jovem para sempre, mas preciso sentir meu espírito e vigor de olhar para a vida se renove constantemente. Nada pior do que um velho querer parecer jovem pintando os cabelos brancos.
AUTOR
Rodolfo