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Qual o problema de falar do problema?

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Estratégia é uma coisa silenciosa, invisível. Já faz um tempo que fiz um curso com dois caras incríveis (Felipe Senise e Daniel de Tomazo, da Sandbox) e isso era dito já no slide dois ou três. Pra mim faz muito sentido. Minha primeira referência de estratégia na vida foi em torno do jogo de truco. Observar a experiência, conhecimento e coragem de fazer apostas ou blefes, conduzindo muitos jogadores a vitória, mesmo com a combinação da sorte das cartas sorteadas jogarem contra.

Quem nunca, né? Se deparar com desafios pela vida e precisar pensar em uma estratégia, uma ideia ou uma saída, com as cartas recebidas de uma forma completamente desconexas à primeira vista. Diariamente somos confrontados e desafiados a resolver problemas assim. Se as cartas estiverem chegando demasiadamente alteradas, sejam favoráveis ou desfavoráveis, o jogo estaria sendo manipulado e não é sobre isso que quero falar. Vamos combinar que a reflexão é sobre as coisas feitas às claras. Acredito que o desafio das empresas hoje em dia passa por reflexões que circulam um pouco essa analogia.

Entendo que o ponto de partida é sempre o problema. A clareza sobre o problema (tem gente que não gosta da palavra “problema”). Mas o fato é que: quando pensamos uma estratégia ela está a serviço de resolver qual problema? Todos estão olhando para o mesmo problema? Não é raro encontrar grupos em grandes discussões sobre a melhor solução. Acontece que nem sempre todos estão olhando para o que precisa ser resolvido de fato, ainda mais entre muitas cabeças.

Poderia discorrer um tanto sobre o que vem depois: como evoluir a estratégia, fazer ela acontecer. Só que tenho visto pouca gente falar sobre isso, o problema. Parece que solução todo mundo tem alguma, mas vejo cada vez menos definições claras de problemas. Outro dia, um importante executivo de uma grande empresa me disse “o maior desafio hoje é fazer todo mundo olhar para o mesmo problema”.

Problema clichê: nossas vendas caíram. Mas porque estamos vendendo menos? Nosso problema é conversão ou volume de cotações? As cotações que perdemos, perdemos porque? O problema é o preço? O produto? O problema é a marca? Ninguém quer enfrentar o problema como a menina destemida de Wall Street, mas “me vê logo uma solução”.

Não são poucas as tentativas que já saem com a solução pronta: mais oferta, mais propaganda, mais buzz, mais desconto ou mais uma corrida de vendas entre os promotores. Toda vez que eu assisti, li ou ouvi sobre uma solução realmente inovadora, ela não foi feita com receitas ou fórmulas repetidas. A combinação de soluções mais inovadoras apontam para resolver a raiz do problema. O difícil para muitas empresas é admitir e enfrentar o real problema.

Acontece que falar sobre os reais problemas nas empresas é desconfortável, muitas vezes desagradável. Acredito que a evolução mais necessária hoje é justamente nesse ponto: falar com clareza sobre o que precisa ser sanado. Qual o problema do problema? O que precisamos resolver de verdade? O que está por trás do problema de fato?

Quando se conquista a clareza de todos envolvidos, nesse nível de profundidade, o alinhamento é mais fluído. Com todos conscientes e mirando no mesmo problema, fica tudo mais fácil. Quando a gente para de reclamar das cartas que recebemos para jogar e vamos para o jogo para ganhar, o jogo é outro. Basicamente, quando encaramos o problema de forma verdadeira.

No livro do Tiago Matos, o Vai lá e Faz, tem um capítulo sobre o “Vale das Ideias”. É uma reflexão maravilhosa. Vejo muita gente em busca de ideias “incríveis”, gente que tem erupções de ideias. Gente viciada em ter ideias. O gráfico do livro explica visualmente essa busca de muita ideia. Acho que esse vício de ter muita ideia, muitas vezes pode ser uma fuga da falta de coragem de olhar para o problema de frente, lapidar e executar com perfeição a melhor solução para ele.


O ponto de partida dos trabalhos que queremos encarar com a nova jornada que a Berrô se propõe a trilhar, partem daqui: clareza do problema. Se você tem passado dificuldade em encontrar soluções criativas para os desafios da sua organização, a primeira entrega que vamos oferecer é uma perspectiva de reflexão sobre o problema.